quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Depressão pós-parto

Todos os grandes momentos do ciclo da vida dos humanos provocam grandes mudanças em sua forma de pensar e enxergar a si mesmo e ao mundo.
O nascimento de um filho, a morte ou perda de alguém amado, o inicio da menstruação, o inicio da adolescência, as doenças crônicas, a aposentadoria; fazem com que certo grau de insegurança se instale, pois estes acontecimentos suscitam reorganização mental e o estabelecimento de novos parâmetros reguladores na busca pela felicidade.
Essa reorganização revela nossos limites, nossas dores, nossas incapacidades, fragilidades e habilidades, enfim nos coloca frente a nós mesmos.
A possibilidade de fracasso na busca desta readaptação pode ser expressa verbalmente e  através de sintomas físicos e psíquicos.
Perda de prazer e interesse pelo mundo, cansaço fácil, o desânimo excessivo, o isolamento do convívio social, as crises de choro, longos períodos de angustia e aflição são sintomas e sinais de frequentes quadros depressivos em homens e mulheres, durante situações de instabilidade.
O quadro sintomático acima define o diagnóstico de depressão pós-parto quando a maioria dos sentimentos (culpa, raiva, cansaços, alegrias), ruminações e pensamentos giram em torno da  capacidade de ser uma boa mãe. Preocupações excessivas com a aparência física, com o futuro, com a perfeição, com a passagem do tempo habitam a mente da jovem mãe.
A depressão pós-parto pode ocorrer até um ano após o nascimento de um filho. Comumente ocorre após o nascimento do primeiro filho em mulheres com falhas na rede social de apoio e principalmente naquelas meninas que na infância experimentaram, em sua intimidade com a mãe, intensos conflitos de rivalidades e disputas ou ausências excessivas destes.

Todos os profissionais de saúde e familiares devem estar preparados para identificar mudanças significativas no humor e o comportamento pessimista e auto-depreciativa das mães em relação aos seus filhos. O companheiro e os familiares devem compreender que ser mãe é a grande tarefa humana, ou seja, é fortemente marcada pela possibilidade de culpa, exageros, insuficiências, aprisionamento e transformações diversas em sua auto-avaliação. Atitudes de condenação e de decepção por parte dos familiares aumentam os obstáculos pelos quais passa a jovem mãe.
As mães deprimidas julgam-se incapazes de cuidar amorosamente de seus bebês e então a insegurança e o afastamento de tais tarefas ficam evidentes, demandando o uso de Antidepressivos e Ansiolíticos pelo Psiquiatra, bem como Psicoterapia para reduzir os entraves no processo de pensamento.
Ser mãe está em íntima relação com Ser filha.
Na remota infância da menina surge o desejo de ser mãe, ou seja; fazer com alguém o que a mãe faz com a ela. A menina usa seus brinquedos para expressar tal desejo repleto de frustrações já que a menina descobre-se inferior e dominada pela mãe. Do complexo jogo entre mãe-filha-pai surgem as habilidades para enfrentar a vida futura: ser mãe.
O que toda mãe precisa é um pouco de compreensão das nuances psíquicas da maternidade; deprimir é um jeito de revelar esta carência antiga.  Essa compreensão favorece a cura, pois alteram a lógica do pensamento depressivo.
Dr. Paulo Cunha dos Santos
Psiquiatra e Psicanalista
Fonte:
http://filhosecia.uol.com.br

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