sábado, 6 de agosto de 2011

Mulheres em surto: como lidar com a independência que conquistamos?

Por Mayra Stachuk
 Reprodução
O que acontece com as mulheres de hoje em dia? Por que tanta cobrança? Será que foi pra isso que nossas feministas queimaram* sutiãs em praça pública nos anos 60? Eu, particularmente, acredito que não. Elas lutavam pela igualdade e pela liberdade das mulheres. E hoje, que estamos bem mais perto de ter isso tudo (pelo menos na nossa cultura ocidental), entramos em surto nos cobrando cada vez mais e mais? É de enlouquecer.

Esse assunto surgiu num dia de crise de uma amiga muito querida. Como sempre pedimos ombro uma à outra, foi a minha vez de ouvir e a dela de falar. “Eu não devia ter nascido nesse século, cara”, começou ela. “Aprendi... Tá na minha veia, corre no meu sangue a historia de ser mulher independente, sabe? Eu me culpo por achar que não sou tão mulher quanto deveria ser, tão competente, tão segura, tão.. tão... tão!”
Por que raios a gente teima achar que só porque conquistamos respeito e espaço temos que ser super heroínas? Mais do que já somos?! A mulher conquistou espaço profissional mas não abriu mão da maternidade, do casamento, da feminilidade. Administrar tudo isso dá trabalho, oras! Então porque nos colocar mais peso ainda exigindo a perfeição? “Mas quem determina esses padrões é você, ninguém mais, amiga, percebe? A cobrança é sua! Pega leve contigo”, respondi, tentando acalmar minha amiga.

E disse isso porque é o que venho tentando cada vez mais na minha vida (haja terapia). Já me cobrei muito e já sofri demais por achar que não era boa o bastante. Hoje faço o que posso. Dou o melhor de mim dentro do que está ao meu alcance. Ponto. Não deu para preparar aquele jantarzinho especial que eu tinha planejado? Paciência! Não deu para atender às expectativas dos meus pais, do meu marido e dos meus amigos completamente? Paciência. A gente não pode deixar que a culpa e a cobrança sejam maiores na nossa vida do que as coisas boas que estamos aqui para aproveitar. É esse equilíbrio que precisamos encontrar. E onde é que a gente queima sutiã para conseguir isso, hein?


* não houve, na verdade, uma queima literal de sutiãs, como acabou ficando eternizado. O que aconteceu foi que um grupo de feministas norte-americanas realizaram um protesto jogando símbolos que consideravam ser de repressão às mulheres (como sutiãs, espartilhos e maquiagem) numa grande lata de lixo em praça pública.
Fonte:
http://revistamarieclaire.globo.com/Revista

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