domingo, 17 de julho de 2011

A escravidão do “alto padrão” dos supérfluos e o dia em que virei spam

Hoje no Mulheres pelo Mundo, a jornalista Adriana Setti, da Espanha, e a repercussão de um de seus posts.
Escrever em um meio interativo, como todo mundo sabe, é dar a cara a tapa. E os tapas, socos e pontapés verbais podem vir quando menos se espera. Menos mal que os afagos também.
Quando escrevi o texto “Como a classe média alta brasileira é escrava do alto padrão dos supérfluos” para esta mesma coluna, em outubro do ano passado, jamais imaginei que despertaria tantas reações furiosas, interpretações distorcidas e ressentimentos em certos leitores – com ênfase no grupo dos que não suportam que alguém possa falar um A do Brasil só porque mora na Europa, apesar desta coluna (de leitura obviamente facultativa) se chamar MULHERES PELO MUNDO.
Pouco tempo depois, no entanto, algo “estranho” começou a acontecer. Através do Facebook, passei a receber mensagens esparsas, de gente que tinha se identificado com o meu texto, que queria estender o debate (e, de fato, o fizemos) ou simplesmente manifestar o seu apoio. A coisa foi crescendo até que virei spam, de verdade. O texto foi colado a um e-mail com o titulo “A vida fora do Brasil” e rodou o mundo. Sim, o mundo.
Atualmente, tenho recebido dezenas de mensagens e e-mails diários com histórias pessoais, muitas vezes comoventes. Respondo todos eles, com carinho e atenção. Ao mesmo tempo, amigos do Rio a Berlim me escrevem para contar que receberam “o texto” como spam, de gente que eu nem conheço. Ou seja, gente que (viva!) concorda comigo e que também se choca com o estilo de vida nababesco levado pelas elites brasileiras e com as complicações que isso tende a gerar na vida do próprio nababo.
Pedi a autorização de uma leitora para reproduzir um desses e-mails, quase na íntegra:
Adriana,
antes de mais nada, obrigada.
Seu inspirado e inspirador texto foi lido quase com volúpia. Era tarde da noite, eu estava naquele gostoso primeiro sono… e meu marido me acordou dizendo “você tem que ouvir isso, parece que foi escrito para nós”.
Como seus pais, somos um casal “enxuto” com mais de 60… Já passamos 3 meses, em Melbourne; 2 meses em Saint Rémy de Provence; e já voamos nossas cabeças por este mundão…mas continuamos a fazer parte da tal “classe média alta brasileira”e toda sua necessidade desmedida. Estamos em pleno processo de mudança. Queremos uma vida mais leve, para, como diz você, tornar-nos ainda mais “portáteis”.
Estamos saindo de uma aconchegante casa de 350 metros quadrados, com 3 “serviçais”para um “apertamento” de 37 e assim, enquanto a saúde permitir, rodarmos nossas bicicletas por muitas paisagens diferentes.
Adriana, não vou me alongar, quem sabe um dia, pessoalmente, você poderá ver nossos olhinhos brilhando de excitação por suas palavras ENCORAJADORAS que nos chegaram no momento mais difícil: a ruptura.
Um beijo agradecido
Vera Maria Menusier

Ao mesmo tempo em que recebo um número cada vez maior de e-mails como este, também noto, aqui de longe, a crescente (ainda que tardia) discussão sobre o preço absurdo das coisas no Brasil (principalmente em São Paulo e no Rio), de comida a imóveis, passando pelos famosos supérfluos que protagonizaram aquele meu texto. E fico feliz por haver contribuído de alguma forma para este debate na vida real, discutindo com pessoas que têm nome e sobrenome, longe da raiva desmedida que habita as caixas de comentários de blogs mundo afora.
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Fonte:
http://colunas.epoca.globo.com/mulher7por7

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