sábado, 10 de setembro de 2011

Álcool, cigarro e drogas na gravidez: segredos que o seu médico precisa saber

Sim, é bem difícil falar abertamente com o obstetra sobre assuntos que você tenta esconder até da sua sombra, como a dependência de drogas. Mas contar o que acontece na sua vida é importante para não colocar a saúde do seu bebê em risco. Aqui, histórias de mulheres que tinham algum vício ao engravidar, o que fazer se você estiver em uma dessas situações e como superar o medo de contar tudo ao seu médico

Chantal Brissac

Henrik Weis
Se você planeja engravidar ou se já conseguiu, sabe que o seu obstetra, além de um check-up completo, vai precisar de algumas informações sobre o seu passado e os seus hábitos que são importantes para cuidar melhor da sua gestação e do bebê. E você também quer perguntar tudo. Afinal, quantas preocupações inéditas não aparecem? Até a tinta do cabelo causa dúvidas. Mas, e quando algumas coisas (muito) importantes não são contadas? E quando há segredos como uma história ligada a bebidas, drogas ou fumo? Deixar de falar com o médico sobre isso pode colocar em risco a sua saúde e a do seu filho. E não dá para dizer que fumar cinco cigarros por dia, por exemplo, é um vício mais leve do que consumir o maço inteiro ou achar que beber um pouquinho a mais não fará mal ao bebê. “O uso crônico de drogas e álcool pode gerar problemas como malformações fetais e insuficiência placentária”, diz Luís Fernando Aguiar, obstetra do Hospital Albert Einstein (SP).
Todos esses vícios podem fazer mal para vocês dois e o melhor caminho para tentar se livrar deles, como você já imagina, é conversar com o médico, sem medo de preconceitos ou de ser julgada. Todo mundo sabe que não é fácil falar abertamente sobre essas inquietações em nenhum momento da vida, mas agora você tem um estímulo a mais (e o mais importante) para tentar: o seu filho. Encontre uma brecha para tocar no assunto – pode ser o resultado de um exame, queixas que levem o médico a fazer a pergunta que você quer ouvir (como fadiga em excesso por conta do cigarro quando você sobe um lance de escada curto) – ou vá direto ao ponto: coloque o maço de cigarro em cima da mesa dele, e pronto! Mas, se para você é difícil encarar o olhar do obstetra, mande um e-mail contanto tudo, assim você não sente aquela pressão. Isso vai trazer tranquilidade e garantir uma gestação mais saudável, porque o médico vai ajudar você a lidar com o problema e a encontrar uma saída. Aqui, os segredos mais difíceis de contar e os problemas que, quando não tratados, eles podem causar durante a gravidez.
Bebidas alcoólicas
Quando a comerciante Silmara Dias*, 29 anos, engravidou, sentiu uma alegria tão grande que o desejo maior era um só: zerar a sua história e recomeçar como se nada tivesse acontecido. Ela era usuária crônica de álcool havia dez anos. “Como planejava parar com a bebida, achei que não tinha por que contar para o médico”, diz. O que a fez confessar seu ponto fraco foram os primeiros exames de sangue e de urina do pré-natal, que indicaram diabetes e problemas no rim. “Foi o que me salvou, porque sozinha eu não teria conseguido. A partir da conversa, ele me alertou sobre os riscos e eu, que tomava duas doses de vodca por dia, consegui, com a ajuda dele, da terapia e de reuniões em Alcoólicos Anônimos, a passar toda a gravidez sem tocar no copo. O Mateus nasceu saudável, embora com baixo peso. Nunca mais coloquei nem um bombom de licor na boca.”
Como você sabe, o consumo de álcool é prejudicial tanto para a mãe quanto para o bebê e não há quantidade segura. “A substância atravessa facilmente a placenta e pode causar vários danos ao feto, sendo a Síndrome Alcoólica Fetal (SAF), que causa retardo mental, um dos mais sérios”, afirma Patrícia Hochgraf, psiquiatra, coordenadora do programa de atenção à mulher dependente química do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas (SP).
Antes, os médicos pensavam que a SAF ocorria apenas entre mães que consumiam álcool de forma pesada. Mas pesquisas mostraram que ela pode ocorrer mesmo se a grávida tomar pequenas doses. Acredita-se que a síndrome e outros transtornos ligados à bebida afetem cerca de 40 mil crianças em todo o mundo – mais do que a Síndrome de Down, segundo a National Organization on Fetal Alcohol Syndrome, dos Estados Unidos. A estimativa é de que um em cada cinco casos de crianças com deficiência mental no mundo seja causado pelo álcool ingerido durante a gestação.
Esse é apenas um dos problemas. Soma-se a ele baixo peso ao nascer, alterações cardíacas, neurológicas (hiperatividade, impulsividade, problemas com a visão espacial) e faciais. Também não é incomum a associação dessas alterações com autismo. O pediatra Hermann Grinfeld, que pesquisa há mais de 40 anos os efeitos do consumo de álcool na gravidez, afirma que problemas como dificuldades de aprendizado, memorização e atenção podem repercutir para a vida toda.
Como tratar: Segundo os médicos, a única saída é parar o álcool imediatamente. Pode ser útil o apoio de um psicoterapeuta ou a adesão a um grupo, como o Alcoólicos Anônimos. Medicamentos não são recomendados, mas, dependendo do caso, o obstetra pode recomendar o uso de antidepressivos.
“EU, QUE TOMAVA DUAS DOSES DE VODCA POR DIA, CONSEGUI, COM A AJUDA DELE (O OBSTETRA), DA TERAPIA E DE ALCOÓLICOS ANÔNIMOS, A PASSAR TODA GRAVIDEZ SEM TOCAR NO COPO. NUNCA MAIS COLOQUEI NEM UM BOMBOM DE LICOR NA BOCA.” SILMARA DIAS*, MÃE DE MATEUS,
FOI ALCOÓLATRA POR DEZ ANOS 
Fonte:
http://revistacrescer.globo.com

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