Paulistanos aderem à produção artesanal de cerveja e sonham, um dia, ter a própria cervejaria
Comida e Bebida - Eduardo Duarte Zanelato
+ Máquina produz e armazena 49 receitas de cerveja
A disseminação recente nos grandes centros começou no início dos anos 2000. A partir de 2006, deslanchou graças a uma comunidade no Orkut com interessados no assunto. A troca de experiências de um tímido grupo de produtores de todo o país tornou-se um incentivo para que centenas de interessados começassem a produzir cerveja em casa. “Estimamos que, só no estado, existam 500 produtores caseiros”, diz David Figueira, diretor da Associação dos Cervejeiros Artesanais Paulistas (Acerva Paulista), criada a partir do Orkut, em 2007. A entidade congrega 75 produtores do estado, 20 deles na capital.
O número é expressivo – ainda mais se levada em conta a complexidade do processo de fabricação (leia quadro abaixo). Do início do preparo à bebida pronta existe um hiato de, no mínimo, um mês. “Quanto mais complexa for a receita, mais tempo de fermentação é necessário”, afirma Alberto Landini, revendedor de produtos para pequenos cervejeiros e professor de iniciantes desse universo. “A fermentação é a etapa mais capciosa do processo”, diz Cilene Saorin, mestre cervejeira. Se a bebida entrar em contato com o ar ambiente, pode gerar os off flavors, sabores decorrentes da fermentação de bactérias indesejadas. O processo é relativamente barato: para se produzir 20 litros, gastam-se cerca de R$ 100.
No Brasil, duas lojas on-line vendem apetrechos e insumos para parte dos produtores caseiros de cerveja. Ficam em Campinas (A Turma – Cerveja Artesanal) e Porto Alegre (We Consultoria) e entregam em todo o país. Livros técnicos e equipamentos mais complexos são trazidos de fora. O mercado interno voltado a esse público inclui bares paulistanos como Frangó e Melograno. Eles atraem interessados em trocar experiências e provar cervejas especiais, geralmente para depois produzir a própria versão em casa. Os iniciantes podem fazer os cursos ministrados por Alberto Landini e Jaime Pereira Filho. Ambos custam entre R$ 300 e R$ 400 e duram um dia, tempo necessário para iniciar os alunos nos cálculos e mecanismos usados na produção de cerveja. Depois de fabricar a primeira leva, eles encerram o curso numa happy hour. “Depois de cinco ou seis tentativas, você vê que a receita sai quase igual”, diz René Ziegelmaier, analista de sistemas e mestre cervejeiro
Fazer cerveja em casa é algo muito familiar para Ziegelmaier: desde os seis anos ele via o avô alemão produzindo a própria bebida em Santa Catarina. Ele aprendeu até a reaproveitar o malte cozido que sobra. “Costumo misturar fermento e fazer pão integral, parecido com o sete grãos. Cada leva de cerveja rende uns 15 quilos”, diz. Em 2008, Ziegelmaier trocou de apartamento em busca de um espaço mais adequado para produzir a bebida. Hoje, ele armazena os ingredientes em um aposento no primeiro andar de sua cobertura no bairro de Moema. No pavimento acima, ainda em obras, instalou o fogão industrial usado na fabricação. Ziegelmaier diz ler tudo que encontra na internet sobre o assunto e que tem uma pequena biblioteca. “Ano que vem, quero fazer um curso de cinco semanas em Michigan (EUA).” Ele já visitou produtores artesanais nos Estados Unidos, Canadá e Europa. “As pessoas estão percebendo que cerveja não é só Brahma, Skol e Bohemia”, afirma René. “É uma revolução das microcervejarias.
Teste cego
Época São Paulo reuniu quatro conhecedores para testar as cervejas produzidas pelos entrevistados desta matéria: Cilene Saorin, mestre cervejeira; Carolina Oda, consultora; Edu Passarelli, dono do bar Melograno e fundador da Acerva Paulista; e o editor de Época SP On-line, Luciano Marsiglia, ex-dono de bar. As cervejas avaliadas eram de três tipos. Fábio Guzzo produziu uma wit bier, que leva casca de laranja e cardamomo. Alex da Rós trouxe uma bitter, dotada de amargor acentuado. E René Ziegelmaier mandou uma stout, cerveja preta feita com malte torrado. O veredicto do júri? Todos têm um futuro promissor.
Melograno R. Aspicuelta, 436, Vila Madalena, tel. 3031-2921; Frangó Largo da Matriz de Nossa Senhora do Ó, 168, Freguesia do Ó, tel. 3932-4818; Acerva Paulista www.acervapaulista.com.br; Cerveja Artesanal www.cervejaartesanal.com.br; WE Consultoria www.lupulo.com.br
Fonte:
http://epocasaopaulo.globo.com
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