Chantal Brissac
Todos esses vícios podem fazer mal para vocês dois e o melhor caminho para tentar se livrar deles, como você já imagina, é conversar com o médico, sem medo de preconceitos ou de ser julgada. Todo mundo sabe que não é fácil falar abertamente sobre essas inquietações em nenhum momento da vida, mas agora você tem um estímulo a mais (e o mais importante) para tentar: o seu filho. Encontre uma brecha para tocar no assunto – pode ser o resultado de um exame, queixas que levem o médico a fazer a pergunta que você quer ouvir (como fadiga em excesso por conta do cigarro quando você sobe um lance de escada curto) – ou vá direto ao ponto: coloque o maço de cigarro em cima da mesa dele, e pronto! Mas, se para você é difícil encarar o olhar do obstetra, mande um e-mail contanto tudo, assim você não sente aquela pressão. Isso vai trazer tranquilidade e garantir uma gestação mais saudável, porque o médico vai ajudar você a lidar com o problema e a encontrar uma saída. Aqui, os segredos mais difíceis de contar e os problemas que, quando não tratados, eles podem causar durante a gravidez.
Bebidas alcoólicas
Quando a comerciante Silmara Dias*, 29 anos, engravidou, sentiu uma alegria tão grande que o desejo maior era um só: zerar a sua história e recomeçar como se nada tivesse acontecido. Ela era usuária crônica de álcool havia dez anos. “Como planejava parar com a bebida, achei que não tinha por que contar para o médico”, diz. O que a fez confessar seu ponto fraco foram os primeiros exames de sangue e de urina do pré-natal, que indicaram diabetes e problemas no rim. “Foi o que me salvou, porque sozinha eu não teria conseguido. A partir da conversa, ele me alertou sobre os riscos e eu, que tomava duas doses de vodca por dia, consegui, com a ajuda dele, da terapia e de reuniões em Alcoólicos Anônimos, a passar toda a gravidez sem tocar no copo. O Mateus nasceu saudável, embora com baixo peso. Nunca mais coloquei nem um bombom de licor na boca.” Como você sabe, o consumo de álcool é prejudicial tanto para a mãe quanto para o bebê e não há quantidade segura. “A substância atravessa facilmente a placenta e pode causar vários danos ao feto, sendo a Síndrome Alcoólica Fetal (SAF), que causa retardo mental, um dos mais sérios”, afirma Patrícia Hochgraf, psiquiatra, coordenadora do programa de atenção à mulher dependente química do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas (SP).
Antes, os médicos pensavam que a SAF ocorria apenas entre mães que consumiam álcool de forma pesada. Mas pesquisas mostraram que ela pode ocorrer mesmo se a grávida tomar pequenas doses. Acredita-se que a síndrome e outros transtornos ligados à bebida afetem cerca de 40 mil crianças em todo o mundo – mais do que a Síndrome de Down, segundo a National Organization on Fetal Alcohol Syndrome, dos Estados Unidos. A estimativa é de que um em cada cinco casos de crianças com deficiência mental no mundo seja causado pelo álcool ingerido durante a gestação.
Esse é apenas um dos problemas. Soma-se a ele baixo peso ao nascer, alterações cardíacas, neurológicas (hiperatividade, impulsividade, problemas com a visão espacial) e faciais. Também não é incomum a associação dessas alterações com autismo. O pediatra Hermann Grinfeld, que pesquisa há mais de 40 anos os efeitos do consumo de álcool na gravidez, afirma que problemas como dificuldades de aprendizado, memorização e atenção podem repercutir para a vida toda.
Como tratar: Segundo os médicos, a única saída é parar o álcool imediatamente. Pode ser útil o apoio de um psicoterapeuta ou a adesão a um grupo, como o Alcoólicos Anônimos. Medicamentos não são recomendados, mas, dependendo do caso, o obstetra pode recomendar o uso de antidepressivos.
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